O corpo da mulher como território de guerra: a pandemia de covid-19 e a crise multidimensional da violência de gênero no Brasil

Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar o agravamento da violência de gênero no Brasil durante a pandemia de COVID-19 e discutir os desafios e respostas das políticas públicas de saúde. A pesquisa, de natureza qualitativa, fundamentou-se em uma revisão narrativa da literatura, realizada nas bases SciELO e LILACS, com recorte temporal de 2020 a 2024, a partir da análise de 25 artigos científicos. Os resultados demonstram que a pandemia atuou como um amplificador histórico de vulnerabilidades preexistentes, intensificando as violências doméstica e institucional. Por meio da análise categorial, a investigação organizou os achados em quatro categorias analíticas: políticas públicas e respostas institucionais; interseccionalidade, raça e vulnerabilidade social; trabalho, saúde mental e violência institucional; e comunicação, mídias digitais e redes de enfrentamento. Os achados evidenciam o paradoxo entre o aumento real da violência e a subnotificação de casos, agravado pelo isolamento social e pela fragilidade das redes de proteção. A perspectiva interseccional revelou que mulheres negras e pobres foram desproporcionalmente afetadas, enfrentando barreiras de acesso aos serviços de saúde e justiça. Conclui-se que as respostas institucionais foram insuficientes, marcadas por inovações digitais com alcance limitado e pelo desmonte de políticas públicas. O estudo aponta a urgência de políticas interseccionais, do fortalecimento do SUS e do investimento em formação crítica dos profissionais para uma atuação efetiva em contextos de crise.

Abstract

This study aims to analyze the worsening of gender violence in Brazil during the COVID-19 pandemic and discuss the challenges and responses of public health policies. The qualitative research was based on a narrative literature review conducted in the SciELO and LILACS databases, covering the period from 2020 to 2024, through the analysis of 25 scientific articles. The results demonstrate That the pandemic acted as a historical catalyst for pre-existing vulnerabilities, intensifying domestic and institutional violence. Using categorical analysis, the investigation organized the findings into four analytical categories: public policies and institutional responses; intersectionality, race, and social vulnerability; work, mental health, and institutional violence; communication, digital media, and support networks. The findings highlight the paradox between the real increase in violence and the underreporting of cases, exacerbated by social isolation and the fragility of protection networks. The intersectional perspective revealed that black and poor women were disproportionately affected, facing barriers to accessing health and justice services. It is concluded that institutional responses were insufficient, marked by digital innovations with limited reach and the dismantling of public policies. The study reinforces the urgency of intersectional policies, the strengthening of the Unified Health System (SUS), and investment in critical training for professionals for effective action in health crisis contexts.

Descrição

Palavras-chave

COVID-19 (doença), políticas públicas de saúde, violência de gênero, mulheres negras

Citação