Imaginários da identidade: Macunaíma e Altazor
Resumo
A literatura é uma espécie de espelho profundo da identidade, pois a obra de arte nunca reflete com
claridade nem perfeição os objetos que coloca em pauta, mas, graças a isso, consegue dizer e deixar
em xeque o próprio objeto representado. De fato, nem a realidade nem a representação da mesma
são estruturas fechadas, mas fluxos de significação que cobram vida nas mãos do escritor, do leitor
e do crítico. Por isso, quando buscamos marcas de identidade cultural em obras como Macunaíma
(1928) de Mario de Andrade e de Altazor (1931) de Vicente Huidobro, que foram escritas sob o
ímpeto da modernidade na sua expressão vanguardista, sacolejamos o discurso nacional do Brasil,
por um lado, e do Chile, por outro. Isso porque o artista que leva a linguagem a ser permeada pela
rapsódia ―como chamara o próprio Mario de Andrade a seu romance― e pelo poema longo
―como é a criação de Huidobro― trabalha com outro lugar da enunciação. Entretanto, a
genialidade da obra não é só uma questão de forma, mas também o trabalho realizado com os
conteúdos, que tanto em Macunaíma quanto em Altazor possibilitam um instigante desdobramento
da identidade. Nesse ensaio inédito desenvolvemos a crítica literária com um perfil neomarxista
graças às leituras de Eagleton e de Benjamin, procurando uma ideia do Brasil com autores como
Darcy Ribeiro e Sérgio Buarque de Holanda e sobre a identidade chilena com Jorge Larraín entre
outros.