Ao longo do século XX, a moda de viola caracterizou-se por seu caráter narrativo. Diversos autores têm buscado em seus textos a "visão de mundo" dos habitantes rurais da Paulistânia, assinalando algumas reiterações temáticas no repertório. Postula-se, basicamente, que a maioria das modas de viola retratam a resistência da cultura caipira à modernização ou a saudade pelo universo rural. Este artigo é crítico dessas premissas. Ao analisar algumas das primeiras modas de viola gravadas em 1929 e seu contexto coloca-se em dúvida que suas narrações fossem reflexo do pensamento caipira. Parece que, ao invés, os textos das modas de viola comercializadas pelas gravadores internacionais estavam alinhados com o discurso hegemônico do paulistismo ou consistiam em narrações jocosas herdeiras do lugar outorgado ao caipira pelo teatro musicado precedente. O caso da moda de viola revela, uma vez mais, a importância de reconstruir o contexto histórico da produção fonográfica ao pretender utilizar o texto da canção como documento histórico.