Extensão universitária: os impactos de um projeto de extensão ao seu público e às demandas comunitárias
Carregando...
Data
2025
Autores
Gregolin, Lara de Paula Bertanha
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
A extensão universitária, uma das funções essenciais das universidades, consolidada no Brasil a partir da década de 1930, envolve a interação entre o conhecimento acadêmico e as necessidades sociais (Santos, 2011). Inicialmente assistencialista e vertical, a extensão era uma via de transmissão unilateral de saberes (FORPROEX, 2007). A partir da década de 1970, houve uma mudança para um processo mais dialógico, promovendo a troca de saberes e a integração entre universidade e comunidade. Contudo, ainda há desafios na valorização plena da extensão como ferramenta de transformação social. Nesse sentido, o objetivo principal deste estudo foi analisar os resultados e os impactos do projeto de extensão universitária “Vi(vendo) e Aprendendo: Rastreamento de déficits visuais em crianças em idade escolar”, explorando suas repercussões para o público-alvo e para a comunidade. O projeto "Vi(vendo) e Aprendendo: Rastreamento de déficits visuais em crianças em idade escolar" rastreou déficits visuais em alunos do ensino fundamental de escolas públicas municipais de Foz do Iguaçu através da aplicação dos testes de Snellen, para acuidade visual, teste de Ishihara, para daltonismo, teste de Jaeger, para visão próxima, além de manobras para avaliação da motilidade ocular. Assim, esta pesquisa, de caráter transversal e qualiquantitativo, reuniu como amostra os dados coletados pelo projeto de extensão quanto a avaliação da acuidade visual (AV), durante o período de 2022 e agosto de 2024, limitando-se à análise dos resultados quantitativos dos testes de Snellen em ambos os sexos e à comparação da autoavaliação feita pelos alunos versus os resultados objetivos demonstrados pelo teste. Ademais, esta pesquisa dedicou-se a buscar resultados não mensuráveis alcançados pelo projeto. A baixa acuidade visual foi considerada quando o índice obtido pela escala foi menor ou igual a 0,7. Foram analisados 639 estudantes provenientes de 16 escolas municipais. Quanto ao sexo, 324 (50,7%) eram do sexo feminino, 312 (48,8%) sexo masculino e 3 (0,5%) não informados. Na amostra estudada, 582 não usavam óculos ou lentes corretivas e 57 já usavam. Em relação à acuidade visual, dentre os alunos que não usavam óculos ou lentes corretivas, 125 alunos apresentaram AV alterada no olho direito e 116 alunos apresentaram AV alterada no olho esquerdo. Dentre os que já utilizavam óculos ou lentes corretivas, 17 apresentaram AV alterada no olho direito e 18 apresentaram AV alterada no olho esquerdo, mesmo em uso de suas lentes. Nesse sentido, do total dos alunos testados, 142 (22,2%) apresentaram déficit na AV do olho direito e 134 (20,9%) apresentaram déficit no olho esquerdo. A análise da distribuição da acuidade visual dos escolares de acordo com sua autopercepção visual evidenciou que 271 crianças com acuidade visual normal se autoperceberam com a visão "boa" (53,2% do total de crianças com visão normal), enquanto 128 se consideraram "regular/ruim" (25,1%) e 110 "não souberam informar" (21,7%). Em relação à acuidade visual alterada, 79 crianças se autoperceberam com a visão "boa" (60,8%), 29 como "regular/ruim" (22,3%) e 22 "não souberam informar" (16,9%). Os resultados sugerem que a percepção das crianças em relação à sua visão não está significativamente associada à acuidade visual medida (p=0,286). Tais resultados refletem que a relação entre a AV e a percepção da visão é complexa e que, muitas vezes, não reflete com precisão a condição oftalmológica real, sugerindo a necessidade de avaliações oftalmológicas regulares e a conscientização sobre saúde ocular. Entre os resultados não mensuráveis, o projeto extensionista em questão conseguiu gerar impactos significativos, incluindo a mobilização do poder público municipal, que resultou na criação de uma emenda destinada ao financiamento de atendimento especializado e de confecção de óculos com lentes corretivas personalizadas para os alunos com déficit confirmado. Para potencializar seus resultados, o projeto também estabeleceu uma parceria com o grupo Rotary do município, que auxiliou na organização do fluxo de crianças para o atendimento com optometrista e na seleção das ópticas responsáveis pela confecção dos óculos. O estudo reafirma, portanto, o potencial transformador desses projetos e a importância da extensão universitária no desenvolvimento comunitário.
Resumen
La extensión universitaria, una de las funciones esenciales de las universidades y consolidada en Brasil desde la década de 1930, implica la interacción entre el conocimiento académico y las necesidades sociales (Santos, 2011). Inicialmente, la extensión era una transmisión unidireccional de conocimientos (FORPROEX, 2007). Desde la década de 1970, se ha producido un cambio hacia un proceso más dialógico, promoviendo el intercambio de conocimientos y la integración entre la universidad y la comunidad. Sin embargo, aún existen desafíos para la plena valorización de la extensión como herramienta de transformación social. En este sentido, el objetivo principal de este estudio fue analizar los resultados e impactos del proyecto de extensión universitária “Vi(vendo) e Aprendendo: Rastreamento de déficits visuais em crianças em idade escolar” (Viendo y Aprendiendo: Rastreo de déficits visuales en niños en edad escolar), explorando sus repercusiones para el público objetivo y la comunidad. El proyecto “Vi(vendo) e Aprendendo: Rastreamento de déficits visuais em crianças em idade escolar” examinó déficits visuales en alumnos de primaria de escuelas públicas municipales de Foz do Iguaçu mediante la aplicación de la prueba de Snellen para la agudeza visual, la prueba de Ishihara para el daltonismo, la prueba de Jaeger para la visión de cerca y maniobras para evaluar la motilidad ocular. Así, este estudio transversal y cuali-cuantitativo muestreó los datos recogidos por el proyecto de extensión sobre la evaluación de la agudeza visual (AV) entre 2022 y agosto de 2024, limitándose a analizar los resultados cuantitativos de las pruebas de Snellen según el sexo y comparando la autoevaluación de los alumnos y los resultados objetivos de la prueba. Además, esta investigación se dedicó a buscar resultados no mensurables logrados por el proyecto. Se consideró reducción de la agudeza visual cuando el índice obtenido por la escala era inferior o igual a 0,7. Se analizaron 639 alumnos de 16 escuelas municipales. En cuanto al sexo, 324 (50,7%) eran mujeres, 312 (48,8%) hombres y 3 (0,5%) no estaban informados. De la muestra estudiada, 582 no usaban gafas ni lentes correctoras y 57 sí. En cuanto a la agudeza visual, entre los alumnos que no llevaban gafas ni lentes correctoras, 125 tenían alterada la AV del ojo derecho y 116 la del ojo izquierdo. Entre los que ya llevaban gafas o lentes correctoras, 17 tenían alterada la AV del ojo derecho y 18 la del ojo izquierdo, incluso cuando llevaban puestas las lentes. En este sentido, de todos los alumnos evaluados, 142 (22,2%) tenían un déficit en la AV del ojo derecho y 134 (20,9%) tenían un déficit en el ojo izquierdo. El análisis de la distribución de la agudeza visual de los escolares según su visión autopercibida mostró que 271 niños com agudeza visual normal se percibían a sí mismos con una visión “buena” (el 53,2% de todos los niños con visión normal), mientras que 128 se consideraban “regular/mala” (25,1%) y 110 “no supieron informar” (21,7%). En cuanto a la agudeza visual alterada, 79 niños se percibían a sí mismos con una visión “buena” (60,8%), 29 como “regular/mala” (22,3%) y 22 “no supieron informar” (16,9%). Los resultados sugieren que la percepción que tienen los niños de su visión no está significativamente asociada con la agudeza visual medida (p=0,286). Estos resultados reflejan que la relación entre la AV y la percepción de la visión es compleja y a menudo no refleja con exactitud el estado oftalmológico real, lo que sugiere la necesidad de realizar evaluaciones oftalmológicas periódicas y de concienciación sobre la salud ocular. Entre los resultados no mensurables, el proyecto de extensión en cuestión consiguió generar impactos significativos, como la movilización del gobierno municipal, que se tradujo en la creación de una enmienda para financiar la atención especializada y la fabricación de gafas con lentes correctoras personalizadas para los alumnos con déficit confirmado. Para potenciar sus resultados, el proyecto también estableció una asociación con el grupo Rotary de la ciudad, que ayudó a organizar el flujo de niños para la atención com optometristas y a seleccionar las ópticas encargadas de fabricar las gafas. Así pues, el estudio reafirma el potencial transformador de estos proyectos y la importancia de la extensión universitaria en el desarrollo comunitario.
Abstract
University extension, one of the essential functions of universities and consolidated in Brazil since the 1930s, involves the interaction between academic knowledge and social needs (Santos, 2011). Initially, extension was a one-way transmission of knowledge (FORPROEX, 2007). Since the 1970s, there has been a shift toward a more dialogical process, promoting the exchange of knowledge and the integration between universities and communities. However, challenges remain in fully recognizing extension as a tool for social transformation. In this context, the main objective of this study was to analyze the results and impacts of the university extension project “Vi(vendo) e Aprendendo: Screening for Visual Deficits in Schoolchildren”, exploring its effects on the target audience and the community. The project “Vi(vendo) e Aprendendo: Rastreamento de déficits visuais em crianças em idade escolar” (Seeing and Learning: Screening for Visual Deficits in Schoolchildren) screened for visual deficits in elementary school students from municipal public schools in Foz do Iguaçu. The assessments included the Snellen test for visual acuity, the Ishihara test for color blindness, the Jaeger test for near vision, and procedures to assess ocular motility. This cross-sectional, mixed-methods study sampled data collected by the extension project regarding visual acuity (VA) assessments between 2022 and August 2024. It focused on analyzing the quantitative results of Snellen tests for both sexes and comparing the students' self-assessments with the objective results from the tests. Additionally, this research sought to identify non-measurable outcomes achieved by the project. Low visual acuity was defined as na index of 0.7 or lower on the Snellen scale. A total of 639 students from 16 municipal schools were analyzed. Regarding gender, 324 (50.7%) were female, 312 (48.8%) were male, and 3 (0.5%) did not provide gender information. Among the sample, 582 students did not wear glasses or corrective lenses, while 57 did. Regarding visual acuity, among the students who did not wear glasses or corrective lenses, 125 had altered VA in the right eye and 116 in the left eye. Among those who already wore glasses or corrective lenses, 17 had altered VA in the right eye and 18 in the left eye, even while wearing their lenses. In total, 142 students (22.2%) had a deficit in the VA of the right eye, and 134 (20.9%) had a deficit in the left eye. The analysis of the students' visual acuity distribution according to their self-perceived vision showed that 271 children with normal visual acuity perceived themselves as having “good” vision (53.2% of all children with normal vision), while 128 considered their vision “fair/bad” (25.1%), and 110 “couldn’t say” (21.7%). Among those with altered visual acuity, 79 perceived their vision as “good” (60.8%), 29 as “fair/bad” (22.3%), and 22 “couldn’t say” (16.9%). The results suggest that children's perception of their vision is not significantly associated with measured visual acuity (p=0.286). These findings reflect the complexity of the relationship between VA and perceived vision, which often does not accurately represent the actual ophthalmological condition. This highlights the need for regular ophthalmological evaluations and greater awareness about eye health. Among the non-measurable outcomes, the extension project generated significant impacts, including mobilizing the municipal government to create an amendment for funding specialized care and producing personalized corrective lenses for students with confirmed deficits. To enhance its impact, the project also partnered with the local Rotary Club, which assisted in organizing the flow of children to optometrists and selecting optical providers for the glasses' production. This study reaffirms the transformative potential of such projects and the importance of university extension in fostering community development.
Descrição
Palavras-chave
extensão universitária, acuidade visual, percepção visual, impactos sócio-econômicos