Companhia Mate Larangeira: da exploração do trabalho nos ervais a reconfiguração do território guarani
Data
2025-07-02
Autores
Silva, Paula Fernanda Sanda da
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
A utilização do trabalho indígena emergiu como uma prática recorrente nos ervais brasileiros ao final do século XIX e início do século XX, manifestando-se de forma particularmente intensa nos territórios do Mato Grosso do Sul e na região oeste do Paraná, onde a Companhia Mate Larangeira detinha concessões governamentais para a exploração do produto. A exploração do trabalho indígena promovida pela Companhia, tanto em Mato Grosso do Sul quanto no oeste do Paraná, visava, primordialmente, a produção de ervamate cancheada, destinada à exportação para a Argentina. Como elemento metodológico utilizamos uma abordagem qualitativa, fundamentada em fontes documentais, incluindo relatos orais prestados por membros da comunidade Guarani a pesquisadores. Destes relatos orais foram identificados detalhes significativos acerca das condições laborais nos ervais, bem como das estratégias de resistência adotadas pelos trabalhadores indígenas. Tais relatos revelam que, mesmo sob um sistema de exploração rigoroso, os trabalhadores buscavam preservar suas tradições e práticas culturais, mantendo, por meio dos rituais e costumes tradicionais, viva a sua identidade cultural. Os trabalhadores eram submetidos a jornadas exaustivas, as quais serviam para saldar dívidas contraídas junto aos proprietários dos ervais — prática comumente referida na historiografia como “escravidão por dívidas.” Esse sistema de exploração, somado ao processo de colonização que se intensificou na região após o declínio da Companhia Mate Larangeira, gerou impactos profundos e duradouros sobre as comunidades indígenas ao longo do século XX. Os desdobramentos desse processo são perceptíveis ainda na contemporaneidade, refletindo-se na vulnerabilidade socioeconômica e na luta contínua pela demarcação de terras das populações indígenas no Mato Grosso do Sul e no oeste do Paraná no período recente.
Resumen
La utilización de mano de obra indígena surgió como una práctica recurrente en las herbolarias brasileñas a finales del siglo XIX y principios del XX, manifestándose de forma particularmente intensa en los territorios de Mato Grosso do Sul y en la región occidental de Paraná, donde la Companhia Mate Larangeira tenía concesiones gubernamentales para la explotación del producto. La explotación de la mano de obra indígena promovida por la Compañía, tanto en Mato Grosso do Sul como en el oeste de Paraná, tuvo como destino principal la producción de yerba mate cancheada, destinada a la exportación a Argentina. Como elemento metodológico, utilizamos un enfoque cualitativo, basado en fuentes documentales, incluyendo relatos orales rendidos por miembros de la comunidad guaraní a los investigadores. A partir de estos relatos orales se identificaron detalles significativos sobre las condiciones de trabajo en las plantaciones de yerba mate, así como las estrategias de resistencia adoptadas por los trabajadores indígenas. Estos informes revelan que, incluso bajo un riguroso sistema de explotación, los trabajadores buscaron preservar sus tradiciones y prácticas culturales, manteniendo viva su identidad cultural a través de rituales y costumbres tradicionales. Los trabajadores eran sometidos a jornadas laborales agotadoras, que servían para saldar deudas contraídas con los dueños de las plantaciones de yerba mate, una práctica comúnmente denominada en la historiografía como “esclavitud por deudas”. Este sistema de explotación, combinado con el proceso de colonización que se intensificó en la región tras la decadencia de la Compañía Mate Larangeira, generó impactos profundos y duraderos en las comunidades indígenas a lo largo del siglo XX. Las consecuencias de este proceso todavía son perceptibles en la contemporaneidad, reflejándose en la vulnerabilidad socioeconómica y en la lucha vigente por la demarcación de tierras de las poblaciones indígenas en Mato Grosso do Sul y oeste de Paraná en el período reciente.
Abstract
The use of indigenous labor emerged as a recurring practice in Brazilian yerba mate plantations in the late 19th and early 20th centuries, and was particularly intense in the territories of Mato Grosso do Sul and the western region of Paraná, where the Companhia Mate Larangeira held government concessions for the exploitation of the product. The exploitation of indigenous labor promoted by the Company, both in Mato Grosso do Sul and in the western region of Paraná, was primarily aimed at the production of cancheada yerba mate, destined for export to Argentina. As a methodological element, we used a qualitative approach, based on documentary sources, including oral accounts provided by members of the Guarani community to researchers. From these oral accounts, we identified significant details about the working conditions in the yerba mate plantations, as well as the resistance strategies adopted by indigenous workers. These accounts reveal that, even under a system of rigorous exploitation, the workers sought to preserve their traditions and cultural practices, keeping their cultural identity alive through traditional rituals and customs. The workers were subjected to exhausting workdays, which were used to pay off debts owed to the owners of the yerba mate plantations—a practice commonly referred to in historiography as “debt slavery.” This system of exploitation, combined with the colonization process that intensified in the region after the decline of the Mate Larangeira Company, generated profound and lasting impacts on indigenous communities throughout the 20th century. The consequences of this process are still noticeable today, reflected in the socioeconomic vulnerability and the ongoing struggle for land demarcation of indigenous populations in Mato Grosso do Sul and western Paraná in recent times.
Descrição
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em História.
Palavras-chave
indígenas, índios guarani, escravidão, erva-mate