Catadoras: protagonismo social de mulheres que trabalham na coleta seletiva.

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Data

2024

Autores

Souza, Chaiane Ferreira de

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Resumo

O Movimento Nacional dos Catadores e das Catadoras de Materiais Recicláveis (MNCR) relata que existem cerca de 800 mil catadores e catadoras no Brasil, sendo que deste número, cerca de 70% são mulheres. Muitas mulheres encontram na atividade da catação a fonte de renda para o sustento de si e de suas famílias, utilizando de recursos individuais e coletivos no processo de ressignificar suas vidas a partir do trabalho. Se organizar em cooperativas foi uma forma de construírem suas identidades também de modo coletivo, através de um grupo formado majoritariamente por mulheres. Embora a inserção das mulheres no mercado de trabalho, a divisão sexual do trabalho se manteve e continua precarizando os espaços em que elas podem ocupar dentro do sistema capitalista, as mantendo em atividades precárias e menos valorizadas. O seguinte trabalho insere o contexto das mulheres catadoras de materiais recicláveis de uma das sete Unidades de Valorização de Resíduos do município de Foz do Iguaçu – PR, com o intuito de compreender suas realidades, abordando o trabalho na cooperativa e seus desafios, atravessados pelas questões de gênero. A pesquisa qualitativa teve como proposta metodológica realizar grupos focais para investigar as dinâmicas de trabalho e relações interpessoais das mulheres catadoras. O trabalho com o lixo reciclável é constante, todos os dias caminhões chegam com o lixo coletado para a seleção. Além disso, os perigos durante a separação dos resíduos vão desde o cansaço trabalhando o dia todo em um barracão quente ou nas ruas, até cortes com cacos de vidro ou outros objetos que passam despercebidos em meio aos materiais. Além das desigualdades de gênero e as dificuldades que essa categoria enfrenta diariamente, muitas são chefes de família e o trabalho como catadora é a única fonte de renda, trabalham duas vezes mais que os homens, realizando tarefas que não são suas, retrato de uma sociedade marcada pela divisão sexual do trabalho e pela feminilização da pobreza que impõe às mulheres a tarefa de se responsabilizar pela realização de trabalhos de cuidado. As desigualdades de gênero se mantêm intrínsecas às relações sociais, sejam elas no ambiente de trabalho ou em suas casas, ordenando comportamentos e relações, desde funções dentro da cooperativa, com as mulheres realizando as tarefas de limpeza, até nas dinâmicas do lar e criação dos filhos, em que as tarefas de cuidado não remunerado também se mantêm sobre cargo delas. Para concluir, percebe-se que para enfrentar esses desafios, as mulheres catadoras de materiais recicláveis utilizam mecanismos de resistência para atuar coletivamente com outras mulheres nas tarefas que antes somente os homens realizavam, e que, a partir desses processos elas desenvolvem mais conhecimento de si mesmas, do seu protagonismo social, dos seus direitos e condição de classe social. Tudo isso contribui para elas avançarem na organização coletiva e reconhecerem seu protagonismo social em uma sociedade que acredita que tudo que envolve o lixo precisa ser descartado.

Descrição

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos Latino-Americanos da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Mestra em Estudos Latino-Americanos.

Palavras-chave

Catadoras; Gênero; Mulheres; Reciclagem

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