Horacio Quiroga e Buenos Aires: o diálogo com a metrópole pelas páginas das novelas de folhetim
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Data
2016-08
Autores
Leites, Amalia Cardona
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Resumo
A inserção de um escritor consagrado como o contista uruguaio Horacio Quiroga no gênero
folhetinesco, através de seis novelas de folhetim publicadas nas revistas ilustradas Caras y Caretas
e Fray Mocho entre os anos de 1908 e 1913 nos mostra a disposição do escritor em se adaptar, no
trabalho com um gênero com o qual não possuía nenhuma afinidade anteriormente, a um panorama
moderno no qual a própria concepção de obra literária começava a passar por questionamentos e
transformações. Porém a complexidade das seis novelas folhetinescas vai muito além de sua
estética e de sua matriz narrativa particular, levantando questões que dizem respeito a
problemáticas sociais e ideológicas encontradas nas primeiras décadas de uma Buenos Aires em
transformação. A partir das seis novelas quiroguianas, esta pesquisa tem como objetivo apresentar
uma possível interpretação dos significados históricos e sociais mais amplos que jazem em uma
produção cultural identificada como literatura comercial ou de massa no contexto específico de
Buenos Aires nas primeiras décadas do século XX. Para tanto, buscamos o que Antônio Cândido
denominou uma “interpretação dialética” da obra literária, para compreender qual a influência
exercida pelo meio social sobre a obra de arte e, por sua vez, qual a influência que a obra de arte
exerce sobre o meio. Esta interpretação dialética será possível através do entendimento de
conceitos como “campo literário” (Pierre Bourdieu), a “orientação dialógica do discurso prosaico”
(Mikhail Bakhtin) e através da valorização da materialidade da obra literária e seu suporte (Roger
Chartier). Nossa tese é de que as novelas de folhetim escritas por Horacio Quiroga, produtos da
indústria cultural, não podem ser compreendidas como meras imitações empobrecidas da literatura
da tradição, porém tampouco representavam a expressão de uma cultura popular que resistia e se
opunha à cultura dominante. São mais bem vistas como pertencentes a um território de contestação,
a um campo de embates culturais. O reconhecimento destas novelas, de sua circulação e de seu
consumo, é o que não nos permite negar a existência de um imenso público leitor que não
correspondia às expectativas da elite letrada. Aqui justamente reside seu valor: são testemunhas do
apocalipse que ocorre quando a literatura deixa de ser um reino reservado para os espíritos
superiores que a compreendam e começa a sofrer uma irrevogável aproximação com o público.
Abstract
Descrição
IX Congresso Brasileiro de Hispanistas realizado nos dias 22 a 25 agosto 2016
Palavras-chave
Horácio Quiroga (1878-1937) - escritor uruguaio, Novelas de folhetim