Dinâmicas comerciais da castanha de caju em Guiné-Bissau: contribuições e desafios para o desenvolvimento socioeconômico do país
Carregando...
Data
2025-07-21
Autores
Djau, Suaibo
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
A economia da Guiné-Bissau está fortemente ancorada no setor agrícola, tendo a produção de castanha de caju como seu principal eixo. O caju representa mais de 13% do PIB, até 97% das receitas de exportação e 33% da renda das famílias rurais, constituindo-se como a base do comércio exterior. O setor agrícola, que engloba a produção de caju, responde por mais de 50% do PIB e emprega cerca de 85% da população ativa. Apesar dessa centralidade, a cadeia produtiva do caju apresenta fragilidades estruturais: prevalece a exportação da castanha in natura, a ausência de uma indústria transformadora local e a vulnerabilidade dos pequenos produtores, que enfrentam um mercado dominado por intermediários, comerciantes e exportadores. Diante disso, este estudo busca compreender as dinâmicas comerciais da castanha de caju na Guiné-Bissau, focalizando os entraves estruturais e as possibilidades de contribuição do setor ao desenvolvimento socioeconômico do país. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, exploratória e descritiva, fundamentada em fontes secundárias e dados primários. Primeiramente, realiza-se uma análise documental e bibliográfica, com base em relatórios de instituições como FMI, FAO, PNUD, Banco Mundial, OMC e entidades governamentais nacionais. Em seguida, são conduzidas entrevistas semiestruturadas com 44 atores da cadeia produtiva, nas regiões de Bafatá e Bissau. Os entrevistados incluem agricultores, comerciantes, empresários, servidores públicos, acadêmicos e representantes políticos e sociais. Os resultados revelam um paradoxo: embora a castanha de caju seja central para a balança comercial do país, a falta de uma política industrial eficaz limita a integração da Guiné-Bissau à economia global. A matéria-prima é majoritariamente exportada para a Índia, onde ocorre seu beneficiamento, industrialização e agregação de valor, gerando retornos significativos para aqueles mercados. Já a Guiné-Bissau permanece vinculada a um modelo primário-exportador de baixa complexidade produtiva. A ausência de infraestrutura adequada, o ambiente político instável e a escassez de incentivos estatais dificultam o investimento privado e perpetuam o ciclo de subdesenvolvimento. A pesquisa também evidencia um mercado assimétrico e desorganizado, em que pequenos produtores têm reduzido poder de negociação e enfrentam preços impostos por compradores que maximizam seus lucros. A falta de regulação eficaz, de assistência técnica e de financiamento acessível amplia essa desigualdade. A industrialização é inviabilizada por entraves estruturais que comprometem a modernização da cadeia e a justa redistribuição dos benefícios da exportação. Diante desse cenário, o estudo propõe medidas para reforçar a competitividade do caju guineense, como a formulação de políticas públicas voltadas à industrialização, estímulo à formação de cooperativas, investimentos logísticos e fiscais, e a construção de uma governança transparente. As conclusões indicam que a castanha de caju pode se tornar um vetor de transformação econômica, desde que inserida em uma estratégia de desenvolvimento integrada e coerente. A transição de um modelo agroexportador para outro baseado na agregação de valor exige uma ação coordenada entre o Estado, o setor privado e as instituições internacionais, orientada à modernização das estruturas produtivas e à ampliação da autonomia econômica nacional.
Resumen
La economía de Guinea-Bisáu está firmemente anclada en el sector agrícola, teniendo la producción de anacardo como su principal eje. El anacardo representa más del 13% del PIB, hasta el 97% de los ingresos por exportaciones y el 33% de los ingresos de los hogares rurales, constituyéndose como la base del comercio exterior. El sector agrícola, que incluye la producción de anacardo, responde por más del 50% del PIB y emplea aproximadamente al 85% de la población activa. A pesar de esta centralidad, la cadena productiva del anacardo presenta fragilidades estructurales: predomina la exportación de la nuez en estado natural, existe la ausencia de una industria local de transformación y se observa la vulnerabilidad de los pequeños productores, quienes enfrentan un mercado dominado por intermediarios, comerciantes y exportadores. Ante este panorama, el presente estudio busca comprender las dinámicas comerciales del anacardo en Guinea-Bisáu, enfocándose en los obstáculos estructurales y en las posibilidades de contribución del sector al desarrollo socioeconómico del país. La investigación adopta un enfoque cualitativo, exploratorio y descriptivo, fundamentado en fuentes secundarias y datos primarios. En primer lugar, se realiza un análisis documental y bibliográfico, basado en informes de instituciones como el FMI, la FAO, el PNUD, el Banco Mundial, la OMC y organismos gubernamentales nacionales. Posteriormente, se llevan a cabo entrevistas semiestructuradas con 44 actores de la cadena productiva, en las regiones de Bafatá y Bisáu. Los entrevistados incluyen agricultores, comerciantes, empresarios, funcionarios públicos, académicos y representantes políticos y sociales. Los resultados revelan una paradoja: aunque el anacardo es central para la balanza comercial del país, la falta de una política industrial eficaz limita la integración de Guinea-Bisáu en la economía global. La materia prima es mayoritariamente exportada a la India, donde se lleva a cabo su procesamiento y agregación de valor, generando retornos significativos para esos mercados. Por su parte, Guinea-Bisáu permanece vinculada a un modelo primario-exportador de baja complejidad productiva. La ausencia de una infraestructura adecuada, el entorno político inestable y la escasez de incentivos estatales dificultan la inversión privada y perpetúan el ciclo de subdesarrollo. La investigación también evidencia un mercado asimétrico y desorganizado, en el cual los pequeños productores tienen un poder de negociación reducido y enfrentan precios impuestos por compradores que maximizan sus beneficios. La falta de una regulación eficaz, de asistencia técnica y de financiamiento accesible amplía esta desigualdad. La industrialización se ve invisibilizada por obstáculos estructurales que comprometen la modernización de la cadena y la justa redistribución de los beneficios de la exportación. Frente a este escenario, el estudio propone medidas para reforzar la competitividad del anacardo guineense, tales como la formulación de políticas públicas orientadas a la industrialización, el estímulo a la formación de cooperativas, inversiones logísticas y fiscales, y la construcción de una gobernanza transparente. Las conclusiones indican que el anacardo puede convertirse en un vector de transformación económica, siempre que se inserte en una estrategia de desarrollo integrada y coherente. La transición de un modelo agroexportador a otro basado en la agregación de valor requiere una acción coordinada entre el Estado, el sector privado y las instituciones internacionales, orientada a la modernización de las estructuras productivas y a la ampliación de la autonomía económica nacional.
Abstract
Guinea-Bissau’s economy is deeply rooted in the agricultural sector, with cashew nut production serving as its primary economic pillar. Cashew accounts for over 13% of GDP, up to 97% of export revenues, and 33% of rural household income, establishing itself as the backbone of the country’s foreign trade. The agricultural sector, which includes cashew production, contributes more than 50% of GDP and provides employment to approximately 85% of the population. However, this economic centrality does not translate into sustainable development, as the value chain remains structurally fragile, marked by the predominance of raw nut exports, the absence of a local processing industry, and the vulnerability of small-scale producers in a market dominated by traders, intermediaries, and exporters. In this context, this study aims to examine the commercial dynamics of the cashew sector in Guinea-Bissau, focusing on structural challenges and the sector’s potential contributions to the country’s socioeconomic development.The research adopts a qualitative, exploratory, and descriptive approach, based on both secondary sources and primary data. First, a documental and bibliographic analysis is carried out, drawing on reports from institutions such as the IMF, FAO, UNDP, World Bank, WTO, and national government bodies. Then, semi-structured interviews are conducted with 44 actors in the value chain, across the regions of Bafatá and Bissau. The interviewees include farmers, traders, entrepreneurs, civil servants, academics, and political and social representatives.The findings reveal an economic paradox: despite the central role of cashew nuts in the country’s trade balance, the lack of a robust industrial policy hinders Guinea-Bissau’s integration into the global economy. The raw material is mainly exported to India, where it is processed and has its value significantly increased, yielding substantial economic returns for those countries. Meanwhile, Guinea-Bissau remains tied to a low-complexity primary export model. Weak logistical infrastructure, political instability, and the lack of government incentives create an uncertain environment that discourages private investment and perpetuates a cycle of economic underdevelopment.The study also highlights an asymmetric and disorganized market in which small producers have limited bargaining power and are subject to prices imposed by buyers seeking to maximize their profits. The absence of effective regulation, technical assistance, and accessible financing exacerbates these inequalities. Industrialization efforts are further obstructed by structural constraints that hinder the modernization of the value chain and the fair distribution of export benefits. Given this scenario, the study proposes several measures to enhance the competitiveness of GuineaBissau’s cashew sector, including the development of public policies aimed at local industrialization, support for cooperative formation, investment in infrastructure and tax incentives, and the establishment of transparent governance mechanisms. The study concludes that cashew nuts could play a transformative role in the national economy, provided they are embedded in a coherent industrial and commercial development strategy. Transitioning from a raw-material-based export model to one focused on value addition requires coordinated efforts by the state, private sector, and international organizations toward productive modernization and economic autonomy.
Descrição
Palavras-chave
Guiné-Bissau, castanha de caju, comércio exterior, políticas públicas