A arte da tradução como instrumento de resistência política para o não apagamento de línguas indígenas: um estudo de caso a partir da tradução ao português do conto "Puna" de Nós xs Índios, de Hugo Blanco Galdos.
Data
2024
Autores
Góes, Suheide Rosa de Oliveira Sousa
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Editor
Resumo
Este trabalho foi realizado a partir da análise reflexiva e comparativa do conto denominado “Puna”, que consta no livro Nosotros los Índios (2016 - versão em espanhol), de Hugo Blanco Galdos, traduzido para o português com o título de Nós xs Índixs (2022). A tradução em questão foi realizada colaborativamente de 2019 a 2021 no projeto de extensão Laboratório de Tradução da UNILA, e eu como parte integrante da equipe do projeto pude contribuir na tradução para a língua portuguesa. Assim, a partir desta experiência, tenho, neste trabalho de conclusão de curso, o objetivo de analisar e compreender, de maneira comparativa e descritivamente, a importância de se traduzir sem apagar línguas minoritárias contidas nos textos. Neste caso em particular, a língua indígena quéchua, presente
na elaboração do texto-fonte do conto “Puna”. Para tanto, foram feitas análises que trataram de descrever de maneira comparativa não apenas palavras e termos dentro do texto, mas também decisões mais amplas, que orientaram o processo de tradução na busca por manter determinadas particularidades do texto-fonte na tradução e, ao mesmo tempo, atender a uma oralidade que se pretendia obter no texto-meta (em português). Nesse sentido, utilizamos como fundamentação teóricometodológica conceitos como a intercompreensão (Escudé; Del Olmo, 2019), a (re)criação e a transcriação (Campos, 2011), a estrangeirização e a domesticação de textos (Venuti, 1995). Concluímos que as análises feitas entre os dois textos (o original e o traduzido) nos mostram a relevância de se trabalhar com um senso crítico e ativista de valorização das línguas e culturas, especialmente as originárias, sobretudo quando atravessam textos escritos em línguas neolatinas, como o espanhol e o português. Foi possível perceber que o conto “Puna”, presente no texto-fonte, carrega um estranhamento em sua construção mesmo para leitores hispanos, pois o seu conteúdo carrega a língua quéchua como parte integrante da construção linguística. Dessa maneira, em meu trabalho optei por mostrar que a tradução do referido conto para o português foi construída com esse mesmo estranhamento, pois mesmo não conhecendo os aspectos linguísticos padrões e usuais da língua quéchua que foram transportados para o texto na língua portuguesa na escrita, consegue compreender seu conteúdo. Isso deve-se ao fato
de que mantivemos, de acordo com o projeto de tradução, a forma mais oral
presente dentro do texto-fonte. Assim, a opção tradutória, respeitando os conceitos teórico-metodológicos, de manter o entendimento das palavras e termos originários, propicia ao leitor vivenciar a experiência de observar a riqueza estética, cultural e linguística de uma língua que não faz parte de nosso cotidiano.
Abstract
This work is based on a reflective and comparative analysis of the short story “Puna”, which appears in the book Nosotros los Índios (2016 - Spanish version) by Hugo Blanco Galdos, translated into Portuguese as Nós xs Índixs (2022). The translation in question was carried out collaboratively in an extension project UNILA Translation Laboratory from 2019 to 2021. As a member of the project team, I contributed to the translation into Portuguese. Based on this experience, the aim of this final project is to analyze and understand, in a comparative and descriptive way, the importance of translating without erasing minority languages contained in the texts. In this particular case, the indigenous Quechua language, present in the source text of the short story "Puna". In order to do this, we carried out a comparative analysis not only of the words and terms in the text, but also of the broader choices that guided the translation process, in order to preserve certain specificities of the source text in the translation and, at the same time, to take into account an orality that we wanted to achieve in the target text (in Portuguese). In this sense, we used concepts such as intercomprehension (Escudé; Del Olmo, 2019), (re)creation and transcreation (Campos, 2011), foreignization and domestication of texts (Venuti, 1995) as theoretical and methodological bases. We conclude that the analysis of the two texts (original and translated) shows us the importance of working with a critical and activist sense of valuing languages and cultures, especially indigenous ones, particularly when they cross texts written in Romance languages such as Spanish and Portuguese. It was possible to see that the short story "Puna", present in the source text, carries a strangeness in its construction even for Hispanic readers, because its content carries the Quechua language as an integral part of the linguistic construction. In this way, in my work I have chosen to show that the translation of this short story into Portuguese is constructed with the same strangeness, because although readers may not be familiar with the standard linguistic aspects of Quechua transferred into Portuguese, they can still understand its content. This is due to the fact that, in accordance with the translation project, we kept the most oral form present in the source text. Therefore, the translation option, which respects the theoretical and methodological concepts of maintaining the understanding of the original words and concepts, allows the reader to experience the aesthetic, cultural and linguistic richness of a language that is not part of our daily lives.
Descrição
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Letras – Espanhol e Português como Línguas Estrangeiras.
Palavras-chave
tradução, Hugo Blanco Galdos, língua quéchua