As divergências políticas do Mercosul e seus impactos na integração regional (2017-2024)

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2025-12-16

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O Mercosul configura-se, atualmente, como o principal bloco econômico da América Latina, sendo um dos canais mais relevantes de projeção internacional para os países que o integram. No entanto, apesar de sua importância estratégica, o bloco enfrenta limitações estruturais significativas, marcadas pela fragilidade institucional e pela recorrente falta de coordenação política entre seus membros. Essa instabilidade compromete sua efetividade enquanto mecanismo de integração e reflete, em grande medida, os interesses nacionais e as dinâmicas políticas domésticas dos governos em exercício. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é investigar de que maneira as oscilações políticas e ideológicas nos governos dos Estados-membros, no período de 2017 a 2024, condicionaram a agenda, a coesão e os rumos da integração regional. A partir da questão norteadora, como as relações entre os governos nacionais impactam as decisões e o funcionamento do Mercosul? Examina-se o papel desempenhado pelos Estados-membros em um período de nítido movimento pendular. A análise abrange o "giro econômico" em direção ao regionalismo aberto sob os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro; os impactos da pandemia de Covid-19, que acentuaram a fragmentação do bloco; a tentativa de retomada de uma agenda de integração mais profunda com o retorno de Lula ao poder no Brasil; a histórica ampliação do bloco com a adesão da Bolívia e as novas incertezas geradas pela ascensão de Javier Milei na Argentina. O estudo adota uma abordagem crítica inspirada em Julián Kan, que interpreta o Mercosul não apenas como um projeto político interestatal, mas como um espaço atravessado por disputas entre diferentes frações do capital industriais, financeiras e exportadoras cujos interesses moldam preferências governamentais e limitam a profundidade da integração. Assim, divergências entre Estados não são lidas apenas como choques ideológicos, mas como expressões de estruturas econômicas assimétricas e de pressões exercidas por setores dominantes em cada país. A pesquisa emprega método qualitativo, com base em revisão bibliográfica e análise documental. Conclui-se que o período de 2017 a 2024 confirma a forte dependência do Mercosul em relação ao alinhamento ideológico de seus líderes, especialmente no eixo Brasil-Argentina. A afinidade entre governos conservadores, como os de Bolsonaro, Benítez e do liberal Lacalle Pou, permitiu uma convergência inicial em torno de pautas de flexibilização econômica, embora com avanços limitados pela resistência da Argentina de Alberto Fernández. A pandemia aprofundou o recuo para as agendas nacionais, resultando em paralisia e desarticulação. A posterior retomada da cooperação sob o governo Lula possibilitou avanços concretos, como a entrada da Bolívia , mas a ascensão de um governo cético ao bloco na Argentina reintroduz um cenário de incerteza, reafirmando o caráter intermitente e volátil da integração regional. Resumen El Mercosur representa actualmente el principal bloque económico de América Latina y constituye uno de los canales más importantes de proyección internacional para sus países miembros. Sin embargo, a pesar de su importancia estratégica, el bloque enfrenta importantes limitaciones estructurales, marcadas por la fragilidad institucional y una recurrente falta de coordinación política entre sus miembros. Esta inestabilidad compromete su eficacia como mecanismo de integración y refleja, en gran medida, los intereses nacionales y la dinámica política interna de los gobiernos de turno. Por lo tanto, el objetivo de este trabajo es investigar cómo las fluctuaciones políticas e ideológicas en los gobiernos de los Estados miembros entre 2017 y 2024 moldearon la agenda, la cohesión y la dirección de la integración regional. Con base en la pregunta clave "¿Cómo impactan las relaciones entre los gobiernos nacionales en las decisiones y el funcionamiento del Mercosur?", se examina el papel desempeñado por los Estados miembros en un período de claras fluctuaciones. El análisis abarca el "cambio económico" hacia un regionalismo abierto bajo los gobiernos de Michel Temer y Jair Bolsonaro; los impactos de la pandemia de COVID-19, que exacerbó la fragmentación del bloque; El intento de retomar una agenda de integración más profunda con el regreso de Lula al poder en Brasil; la histórica expansión del bloque con la adhesión de Bolivia; y las nuevas incertidumbres generadas por el ascenso de Javier Milei en Argentina. El estudio adopta un enfoque crítico inspirado en Julián Kan, quien interpreta el Mercosur no solo como un proyecto político interestatal, sino como un espacio atravesado por disputas entre diferentes fracciones del capital industriales, financieras y exportadoras cuyos intereses moldean las preferencias gubernamentales y limitan la profundidad del proceso de integración. Así, las divergencias entre Estados no se leen únicamente como choques ideológicos, sino como expresiones de estructuras económicas asimétricas y de presiones ejercidas por sectores dominantes en cada país. La investigación utiliza un método cualitativo basado en revisión bibliográfica y análisis documental .Concluye que el período de 2017 a 2024 confirma la fuerte dependencia del Mercosur del alineamiento ideológico de sus líderes, especialmente en el eje Brasil-Argentina. La afinidad entre gobiernos conservadores, como los de Bolsonaro, Benítez y del liberal Lacalle Pou, permitió una convergencia inicial en torno a las agendas de flexibilidad económica, aunque el progreso se vio limitado por la resistencia de la Argentina de Alberto Fernández. La pandemia profundizó el repliegue hacia las agendas nacionales, lo que resultó en parálisis y desarticulación. La posterior reanudación de la cooperación bajo el gobierno de Lula permitió avances concretos, como el ingreso de Bolivia, pero el ascenso de un gobierno escéptico del bloque en Argentina reintroduce un escenario de incertidumbre, reafirmando el carácter intermitente y volátil de la integración regional.

Abstract

Mercosur currently represents Latin America's leading economic bloc, serving as one of the most important channels for international projection for its member countries. However, despite its strategic importance, the bloc faces significant structural limitations, marked by institutional fragility and a recurring lack of political coordination among its members. This instability compromises its effectiveness as an integration mechanism and largely reflects the national interests and domestic political dynamics of incumbent governments. Thus, the objective of this paper is to investigate how political and ideological fluctuations in member state governments from 2017 to 2024 shaped the agenda, cohesion, and direction of regional integration. Based on the guiding question, "How do relations between national governments impact Mercosur's decisions and functioning?", the role played by member states in a period of clear pendulum swings is examined. The analysis covers the "economic shift" toward open regionalism under the governments of Michel Temer and Jair Bolsonaro; the impacts of the COVID-19 pandemic, which exacerbated the bloc's fragmentation; the attempt to resume a deeper integration agenda with Lula's return to power in Brazil; the bloc's historic expansion with Bolivia's accession; and the new uncertainties generated by the rise of Javier Milei in Argentina. The study adopts a critical approach inspired by Julián Kan, who interprets Mercosur not merely as an inter-state political project but as a space shaped by disputes among different fractions of capital industrial, financial, and export-oriented whose interests influence governmental preferences and limit the depth of integration. Thus, divergences among states are not interpreted solely as ideological conflicts but as expressions of asymmetric economic structures and pressures exerted by dominant sectors within each country. The research employs a qualitative method based on bibliographic review and document analysis. It concludes that the period from 2017 to 2024 confirms Mercosur's strong dependence on the ideological alignment of its leaders, especially in the Brazil-Argentina axis. The affinity between conservative governments, such as those of Bolsonaro, Benítez, and the liberal Lacalle Pou, allowed for an initial convergence around economic flexibility agendas, although progress was limited by the resistance of Alberto Fernández's Argentina. The pandemic deepened the retreat to national agendas, resulting in paralysis and disarticulation. The subsequent resumption of cooperation under the Lula government enabled concrete advances, such as the entry of Bolivia, but the rise of a government skeptical of the bloc in Argentina reintroduces a scenario of uncertainty, reaffirming the intermittent and volatile nature of regional integration.

Descrição

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política da Universidade Federal da Integração Latino- Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Relações Internacionais e Integração.

Palavras-chave

Mercosul, integração regional, política externa, agendas nacionais

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