Traços conceituais da repetição e do hábito em Gilles Deleuze.

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Data

2022

Autores

Montenegro, Gonzalo

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CRV

Resumo

Considerando traços da conceptualização das noções de “repetição” e “hábito”, presentes em Empirisme et subjectivité (DELEUZE, 1953, em diante ES), esperamos fazer algumas anotações acerca do percurso que leva até Différence et répétition, tese que Deleuze apresenta em 1968 (doravante DR), cujo capítulo II se debruça na constituição da síntese do presente. Para tanto, será necessário estabelecermos duas etapas na determinação desse percurso. Na primeira etapa, abordaremos a forma em que Deleuze descreve o hábito como princípio complementar ao princípio de experiência na construção do conhecimento (ES, III - 1953, p. 64-66). Para tanto, colocaremos em evidencia a distinção que traça o francês entre hábito e repetição a propósito da causalidade em Hume. Para o escocês, a repetição de casos semelhantes, a conjunção constante, chancelada pela rigorosa análise do princípio de experiência, não é suficiente para assentar a conexão necessária da causalidade. Esta deriva do poder da crença, que fundamenta a inferência causal segundo o que apresenta Hume em seu Treatise of Human Nature (1896, 1.3.6-1 [a seguir THN, livro.parte.seções]). Eis a emergência do progresso que dá origem ao hábito: a conjunção constante ou repetição dos casos no passado se torna, agora, uma força capaz de se adentrar no futuro (ES, III - 1953, p. 61-65). Cabe ressaltar a importância de não reduzir os elementos do trabalho acerca de Hume a meras peças premonitórias da tese de doutorado. Deleuze, sabemos, caracteriza DR através da técnica de colagem heteróclita de referências (DR, Intro - 1968, p. 4). No entanto, isso não autoriza a tratar as monografias que antecedem esta obra em termos de uma espécie de ilusão retrospectiva. Aqui consideramos fundamental fazer valer a premissa empirista formulada por Deleuze, ao considerar que as relações são exteriores aos seus termos (ES, V - DELEUZE, 1953, p. 109-110; DELEUZE, 2002, p. 227-228). Neste trabalho, isso equivale a dizer que as noções que nos interessam, repetição e hábito, fazem parte de relações que as ultrapassam. Sendo assim, a operação de colagem de DR não deveria possuir um papel teleológico com relação à montagem que determina a estratégia de leitura de ES. A segunda etapa do percurso requer detalhar a forma em que se produz a articulação das noções citadas em DR. De acordo com o princípio de composição em colagem, estes traços entram em relações que comportam um âmbito de discussão diferente. ES introduzia uma separação entre duas concepções do tempo. O tempo, considerado do ponto de vista das percepções distintas dadas na experiência, consiste apenas na forma de sucessão de tais percepções. Entretanto, para a subjetividade, o tempo incorpora a progressão do hábito e gera, assim, as inclinações que regem o percurso temporal (ES, III - 1953, p.64-66; ES, V - 1953, p. 103-108). Estes traços são abordados em DR, II na forma de dois níveis de repetição: a repetição material (ou repetição “em si”) e a repetição enquanto contração (repetição “para si”). O segundo tipo de repetição evidencia a existência de uma síntese passiva na constituição da subjetividade, capaz de garantir a sucessão temporal a través de um elo que torna íntimos os diferentes momentos da sucessão. Trata-se de uma reprodução precisa do trabalho desenvolvido acerca do hábito em ES e que denota, todavia, uma tendência a maximizar a diferença expressiva desse pensamento.

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MONTENEGRO VARGAS, GONZALO. Traços conceituais da repetição e do hábito em Gilles Deleuze. In: Correia Jardim, Alex Fabiano. (Org.). DELEUZE E GUATTARI. PENSAR EM VEREDAS QUE SE BIFURCAM: política, educação e clínica. 1aed.Curitiba: CRV, 2022, v. I, p. 245-259.