O tradutor de literatura como mediador cultural: algumas reflexões sobre dois tradutores de Dom Casmurro para o espanhol
Abstract
Este trabalho visa tecer algumas reflexões teóricas acerca do papel do tradutor de literatura como
um mediador cultural. Tendo em vista a discussão levantada pelo filósofo alemão Friedrich
Schleiermacher sobre os dois “métodos” de tradução no século XIX, propomos um diálogo com a
abordagem pósestruturalista de Lawrence Venuti no que diz respeito à invisibilidade do tradutor,
apresentando, assim, pontos de aproximação e distanciamento do propósito do Romantismo. Para
isso, estamos considerando o fato de (a) haver mais de um século de distância entre os dois
pensadores e (b) que o mercado editorial para tradução ter passado por mudanças importantes. O
modo de ver a tradução como uma prática embutida na cultura não permite ver o resultado como
um produto expressamente acabado e livre de ideologias. A partir dessas considerações, trazemos
para a discussão o trabalho do tradutor André Lefevere sobre a questão da manipulação literária e a
reescrita como forma de transformação, além da consideração do tradutor como um agente ativo na
produção literária. O tradutor aborda também a questão da patronagem e as forças mobilizadoras da
indústria editorial. Para ilustrar as questões aqui levantadas acerca da problematização da literatura
traduzida, abordaremos dois tradutores da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis, para o
espanhol – Pablo del Barco e Nicolás Extremera Tapía – e, em linhas gerais, quais seriam os
possíveis efeitos dos trabalhos desses tradutores causados na cultura da língua de chegada