Relações com o sagrado e as fronteiras da pósautonomia em Cristian Alarcón
Resumo
Ao contrário do ocorre em seu primeiro livro (Cuando me muera quiero que me toquen cumbia,
2003), no qual transita entre o jornalismo investigativo, a crônica jornalística e o relato oriundo do
trabalho de campo, em Si me querés quereme transa (2010) Cristian Alarcón irá enfatizar a
independência da criação literária diante da realidade e dos outros discursos. Neste sentido, escreve
um livro que, paradoxalmente, remete a uma problemática do terreno sóciohistórico (a violência
associada ao tráfico de drogas e aos espaços e deslocamentos massivos para as villas de Buenos
Aires) e pode ser lido a partir da concepção de “literatura pósautônoma” (Ludmer, 2000), ao mesmo
tempo que dialoga intensamente com o cânone literário e retoma um projeto autonomista que
marcou as políticas da literatura na modernidade desde as vanguardas. Nesse trabalho, focaremos na
categoria de autonomia, tal como proposta por Peter Bürger, e consideraremos a possibilidade de
uma escritura na qual convivem os ideais estéticos da autonomia e da pósautonomia. A “criação”
desse território ficcional chamado Villa del Señor traz à cena os conflitos vividos pelos novos
imigrantes de Buenos Aires. Percebemos, porém que, na contramão do imaginário dominante, o
elemento principal que perpassa todas as subtramas não é a violência ou a miséria, mas as diferentes
manifestações do sagrado na vida dos sujeitos. Além da retomada obrigatória de Bürger e Ludmer,
para estudar estes dois aspectos da obra, recorreremos aos estudos de Pablo Semán, María Julia
Carozzi, José David Pujante e Florencia Garramuño.