Produção familiar de leite e a expansão do cultivo da soja em Rondônia: uma análise a partir do município de Machadinho do Oeste

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Data

2024

Autores

Ebeling, Paulo Henrique Britto

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Resumo

O cultivo de soja na região amazônica tem se expandido cada vez mais e, com isso, altera os modelos de ocupação e uso do espaço, transformando a economia regional a partir de um modo de produção altamente capitalizado, distanciando-se das formas de produção tradicionais da região. O município de Machadinho do Oeste (Rondônia) é um exemplo desse processo, em que a superfície cultivada com soja saltou de 4.941 para 17.049 hectares entre 2017 e 2022, expandindo-se principalmente sobre áreas da agricultura familiar leiteira. O objetivo deste trabalho é identificar e analisar os motivos que impulsionaram os produtores de leite a arrendaram ou venderam suas propriedades para o plantio da soja nas linhas rurais MA 23 e MA 25 no município de Machadinho do Oeste (Rondônia) entre 2017 e 2023. Para a realização deste trabalho foi realizada uma revisão bibliográfica em artigos científicos no tema do TCC e a análise de dados primários e secundários, como a Pesquisa Agrícola Municipal, Censos Agropecuários e Mapbiomas, com o foco no período de 2017 a 2023. Além disso, foi realizada uma pesquisa de campo em janeiro de 2024 com a condução de entrevista através de um roteiro semiestruturado, na qual, foram entrevistados no total 11 pessoas, sendo quatro que arrendaram e três venderam suas propriedades para o cultivo da soja no local em estudo. Além disso, também foram entrevistados três produtores rurais que não arrendaram e nem venderam para o cultivo da soja e o arrendatário/comprador das áreas. Os resultados obtidos apontam que os principais motivos que levaram os produtores rurais a arrendarem suas propriedades estão conectados com a renda obtida, que é segura e sem risco, com a valorização das propriedades após mecanização, com o maior retorno financeiros em comparação com a atividade do leite e com isolamento no campo, pois muitas famílias optaram por vender ou arrendar e as localidades foram perdendo seus moradores. Já aqueles que venderam suas terras apresentaram como argumentos centrais o fato de que, com a expansão da soja e a valorização das terras, eles puderam comprar uma superfície maior em localidades de expansão da fronteira agropecuária. Além disso, também apareceu nas entrevistas que o uso de agrotóxicos na lavoura afeta a saúde das famílias e compromete a sua permanência na zona em estudo. Entretanto, teve aqueles que optaram por não arrendar e nem vender suas propriedades para o cultivo, sendo que eles relataram questões como, experiências passadas negativas com a venda da propriedade, a não necessidade de venda e arrendo e o fato de que a propriedade rural é o seu local de moradia e de onde tiram o sustento familiar. Entretanto, eles não descartam a venda e/ou arrendo destas áreas no futuro. Ao questionar as razões pelas quais os produtores rurais familiares de leite estão vendendo ou arrendando suas áreas, fica clara a complexidade desse processo, que envolve questões econômicas, sociais, demográficas e de saúde. E o pano de fundo desse movimento é um avanço rápido e intenso da soja, que vai afetando toda a dinâmica das localidades e tornando essa dinâmica hegemônica e totalizante, mostrando o desafio que é a manutenção da agricultura familiar em áreas de expansão do agronegócio na Amazônia.

Descrição

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Latino-Americano de Economia, Sociedade e Política da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar.

Palavras-chave

agricultura familiar, expansão da soja, agronegócio, Amazônia

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