dc.description.abstract | Em dezembro de 1958, quando ainda residia na Argentina, Rafael Alberti recebe uma carta
anônima escrita desde uma prisão na Espanha. A missiva é publicada em 1976 na edição da revista
Litoral dedicada a textos sobre a relação entre poesia e prisão. Em junho de 1959 já viera à luz a
resposta de Alberti, intitulada Carta a los presos de España. A leitura atenta dessas
correspondências desvela intenções que ultrapassam o âmbito íntimo, expectativa primeira criada
pelo gênero textual, aqui considerado a partir dos estudos de Foucault (2006), Pedro Salinas
(2007), Marcos Antonio de Moraes (2008) e Claudio Guillén (1985). Propomos ler as duas cartas
numa perspectiva mais ampla que implica, por um lado, uma reflexão sobre os limites da ação do
poeta e da poesia, e, por outro, uma complexa conjuntura história na passagem dos anos 50 para os
60, na qual não se pode ignorar o papel dos intelectuais detidos em prisões espanholas – como o
poeta Marcos Ana, cujo período de detenção em Burgos foi amplamente estudado por Manuel
Aznar Soler (2003) –; o movimento europeu e americano pela anistia de presos políticos na
Espanha e em Portugal; e o acirramento das tensões ideológicas decorrentes da Guerra Fria. A
armação discursiva das cartas, organizada a partir da reivindicação, tanto dos presos como de
Rafael Alberti, por uma voz plena e legítima capaz de se erguer contra o silêncio decretado pela
ditadura franquista após a Guerra Civil Espanhola, reafirma o compromisso deste poeta e evidencia
sua lúcida atuação artística e política num contexto histórico especialmente intrincado | pt_BR |