Silveira, Matheus dos Santos2023-08-232023-08-232023https://dspace.unila.edu.br/handle/123456789/7563Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Relações Internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Relações Internacionais.A presente pesquisa se soma às iniciativas desenvolvidas com vistas a problematizar o campo da saúde global. Considerando as experiências da COVID-19, o presente trabalho objetiva examinar de que modo as ações de resistência do povo Munduruku no contexto da pandemia evidenciam lacunas do campo da saúde global. Parto do princípio de que, para além das consequências advindas pelo enfrentamento de uma pandemia, comunidades indígenas da região são alvos das mais variadas violações de direitos humanos, assim como a ineficácia da garantia de direitos fundamentais para si próprios e para com seus territórios. Entendendo a saúde global como um campo interparadigmático ainda assentado em noções vinculadas ao Norte Global e que, portanto, marginaliza os saberes indígenas paralelamente à crescente resistência do povo Munduruku, durante o contexto pandêmico diante da exploração, invasão e violações em suas comunidades, esta dissertação se constitui enquanto um estudo de caso, de caráter qualitativo. Enquanto fontes de pesquisa, foram utilizadas diversas mídias, em especial imagens retiradas de duas fontes: 1) redes sociais de movimentos indígenas da região indígena; 2) jornais e portais virtuais de notícias produzidos na região do Tapajós. Argumento que a pandemia, somada às lutas históricas travadas pelo respeito aos seus territórios, fomentou a criação de estratégias que reposicionam noções básicas do campo da saúde global, como o seu objetivo principal enquanto campo, assim como o objeto de conhecimento e os conceitos que atravessam suas práticas. A análise das imagens, em sua maioria de ações desenvolvidas pelo povo Munduruku no contexto da COVID-19 somadas às contribuições teóricas apresentadas ao longo da dissertação contribuíram para a discussão a partir de três eixos: o primeiro, do objeto de estudo da saúde global que por vezes é despolitizado por seus praticantes; o segundo, ligado aos tipos de conhecimentos do campo que atualmente acabam por ser delimitados a partir de uma geopolítica do conhecimento que subjuga conhecimentos como os dos povos originários; e terceiro, de seus objetivos estarem centralizados em uma medicalização do campo. Ao visualizarmos o campo da saúde global e suas teorias subjacentes enquanto um corpo constantemente despolitizado, remetido à um conjunto de noções que não sequer busca dialogar com outros modos de vida (ou outros mundos) e focados a um objetivo pautado na hipermedicalização de seus atores (individuais e coletivos), podemos perceber que a COVID-19 foi na verdade a peça do dominó de um circuito que possui bases de pelo menos cinco séculos. Por fim, indico que as experiências Munduruku sinalizam para as múltiplas formas de vida que compartilham a Terra e oferecem pistas para pensar os efeitos do capitalismo e sua expansão nos processos de extração de vida sobre a saúde do planeta como um sistema integrado.poropenAccessSaúde mundialÍndios MundurukuAmazôniaCOVID-19Transbordando a Amazônia: Lacunas da Saúde Global à Luz de Ações do Povo Munduruku no Contexto da COVID-19masterThesis