Clarice Lispector e Macedonio Fernández: poéticas do inacabado
Resumo
Neste estudo pretendemos aproximar a obra da escritora brasileira Clarice Lispector (19201977) e
do escritor argentino Macedonio Fernández (18741956). Ainda que esses dois escritores estejam
afastados por uma série de questões como nacionalidade, estilo, preocupações estéticas, há, ao
menos, um aspecto central em suas escrituras que os aproxima e permite um diálogo que pode
ampliar a leitura que fazemos das obras de cada um. Esse aspecto diz respeito ao exercício de
escrita que se constrói por meio do inacabado. Tanto em Museu do Romance da eterna (1967),
como em A paixão segundo G.H. (1964), como também em outros textos, observamos a abertura, o
inacabado e a ausência de verdades dogmáticas como aspectos que permitem aproximar esses dois
escritores latinoamericanos. Além disso, essa poética do inacabado possibilita pensar essas
escrituras como essencialmente trágicas, na esteira de Nietzsche, já que o inacabado pode ser lido
como um modo de invenção afirmativa deste mundo aqui e agora, em sua precariedade, em sua
incompletude, em sua efemeridade, o que revela nesses escritores um pensamento trágico que
pretende, sobretudo, a afirmação irrestrita e alegre da existência