O bilinguismo como objeto de conhecimento: a formação dos conceitos
Resumo
Partimos de uma das análises discursivas desenvolvidas em nossa pesquisa de doutorado para
apresentar um recorte no qual investigamos o processo de formação de conceitos de bilinguismo na
linguística, constituindo um objeto de conhecimento da ciência. A análise, teoricamente orientada
pelos preceitos da análise de discurso pecheutiana, teve como base a configuração de um arquivo do
discurso científico sobre bilinguismo, com um levantamento da literatura especializada sobre o
tema. O estudo desse arquivo levounos a compreender que os sentidos predominantes de
bilinguismo sustentamse numa formação discursiva logicista, em que impera o paradigma
monolíngue vinculado a uma concepção de língua como “unidade” e de sujeito como “falante”.
Entretanto, mudanças epistemológicas em diversas áreas dos estudos da linguagem filiadas a uma
virada multilíngue têm produzido outras possibilidades de dizer sobre a língua, com a irrupção de
sentidos “discordantes”, mais heterogêneos, numa profusão terminológica filiada a movimentos de
sentido de contradiscursos em relação de coexistência com os discursos predominantes,
historicamente mais estabilizados. Tais abordagens, em ascensão teórica nas duas últimas décadas,
demarcaram uma mudança epistemológica vinculada a movimentos teóricos de abertura disciplinar,
colocando em circulação conceitos ressignificados de língua e de bilinguismo. A análise mostrou
que tais processos de ressignificação constituem contradiscursos, deslocando a hegemonia do
paradigma monolíngue para a preeminência do paradigma multilíngue